Minha Vida,
eu não consigo!
Eu sei que, quando você encontrar
esta humilde cartinha, já estará muito distante de mim, enquanto eu estarei
aqui sozinha, sem seus beijos e abraços que aquecem minha alma e me protegem
dos temores que a vida conserva presente para dar sentido à existência de cada
um dos mortais.
Perdoe a minha insegurança,
mas acontece que, é a primeira vez que vamos estar separadas por tanto tempo,
que já me sinto só. Tento ser forte, mas não consigo, pois ainda sinto as suas
mãos afagando os meus cabelos, sua boca tocando a minha. Que loucura!
Tento ser valente nessa hora, mas
não consigo, pois te amo loucamente e sei que, quando eu percorrer o jardim da
nossa casa sentirei a sua presença nas flores, nos pássaros, no ar...
Procuro corromper o meu medo mais
uma vez, e nessa ânsia louca sou vencida, pois você sempre está presente onde
quer que eu vá.
Oh meu grande amor, gostaria que
essa noite nunca acabasse, e que o dia não chegasse trazendo consigo o dever da
partida.
Olho-me no espelho de frente e de
perfil, e com um toque singular com a língua por volta dos lábios, umedecendo-os
até brilharem, posso fazer de conta que acabara de ser beijada por você, já que
ainda permanece adormecida em nosso leito como um anjo lindo.
Um
copo com água nesse momento talvez me ajudaria a refrescar a mente, e a
congelar o meu coração que está em brasa e os nervos à flor da pele.
Sigo até a
janela e a noite me convida para sonhar com as estrelas, mas não consigo,
porque só quero me perder em devaneios em seus braços.
Foi quando vi no céu um novo dia, a
lua havia desistido de tentar me convencer a ser forte e foi embora dando lugar
ao sol que se erguia por trás das colinas, passando por sobre os arranhas céus
desta selva de pedra, cintilando seus raios dourados por sobre o nosso jardim
florido, fazendo ruborizar as pétalas das rosas e a parede bege do nosso lar.
Volto novamente ao espelho e desta
vez não eram só o desespero e a insegurança estampados em meu rosto, haviam
olheiras de uma noite em claro, mas, não por eu ter me esquecido de apagar as
luzes, mas sim, por não desligar os meus pensamentos.
E agora meu grande amor, com tanta
perseguição assim, sozinha vou estar sem ter você ao meu lado para que eu possa
me entregar.
Amo-te perdidamente, nunca se esqueça
disso, e estarei aqui esperando você voltar para a gente poder se amar.
Com todo o meu amor, sua, sempre
sua.
Vera.
Vanessa não
conteve as lágrimas e chorou de emoção, não conhecia bem esse lado tão poético
de Vera, pegou o telefone e pediu para que a telefonista lhe fizesse uma
ligação para o Brasil.
Continua...
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